Intensifiquei-me no sentir e me fragmentei em alguns pensamentos e lágrimas. Já não saberia se a palavra substituição de minha recente frase destacada acima está certo. Acho que me fragmentei de ti. Ou desconectei e perdi a corda que nos ligava. Se fui substituído, me fragmentei antes, sem perceber, mas percebi. Ilhei-me e me tranquei onde não posso sair, preciso de um barco.
Toques de solitude, afetos só em um universo interiorizado e aprisionado em si. Não aprisionado por vontade própria, mas por um contexto que não soube lidar. Apenas entrei na cela e me tranquei. Te entreguei a chave. Te forcei a fechar e ir embora com a chave. Percebi que a cela era uma ilha com labirintos e caos. Sempre gostei do caos, mas não sabia o quanto poderia me assustar com ele preso e desconectado de tudo. Continuo sem a chave ou o barco, e descobrindo cada canto angustiante e sombrio de mim.
Alheia a tudo você se descreve. Alheio a tudo sempre me senti. Achei ter conseguido me conectar por pouco tempo. Percebi naquela noite que continuo alheio, enquanto você passou a estar, se sentir. Caminhando aqui na ilha vejo lembranças suas, vestígios teus, tuas marcas em mim, mas não te vejo aqui. Corações roxos se distanciam, infelizmente. Vez ou outra te enxergo, do outro lado do mar, em conexões menos frágeis do que a nossa. A corda quase arrebentando se arrebentou, segurei na corda ao invés de suas mãos. Romantizei a fragilidade até que… falhei.
Descartado por mim mesmo, desamparado. Se soubesse nadar iria à teu encontro, porém estou preso na ilha. A chave da cela, o barco da ilha deixei em tuas mãos. Tu não te tornas responsável por isso, não deve vir me buscar se não o quiseres. Algum dia a maré irá baixar, e a água abrirá espaço para terra firme. Assim caminharei para fora da ilha, e a porta da cela se abrirá. Se tiver sorte te encontro. Corações roxos também partem. O céu está confuso e amedrontador, mas ainda permanece roxo, assim como a ilha e os corações (ainda).
Série de textos Corações Roxos
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